28 de janeiro de 2021
Aos poucos vamos ouvindo cada vez mais falar dos termos “Comportamento Térmico dos Edifícios” ou “Certificação Energética”. Mas afinal do que se tratam estes conceitos? Mais uma coisa que o Estado inventou para nós pagarmos, ou mais uma coisa para encarecer a minha obra? São estas as conversas que vou ouvindo durante o contacto com os proprietários ou futuros proprietários de Edifícios que se veem obrigados a Certificar a sua casa ou a fazer um pré-certificado no ato de licenciamento da sua obra de construção. Vou tentar abordar este tema de forma sucinta e prática para que todos consigam perceber no que consiste e quem sabe até acreditarem na mais-valia que é ter uma casa energeticamente mais eficiente. Podemos olhar para a nossa casa ou local de trabalho como um organismo em constante troca energética com o exterior. Vamos imaginar o nosso corpo. Se está muito frio, o nosso corpo vai sentir necessidade de se aquecer e por essa razão de alguma forma vai tentar aproveitar ao máximo a energia que temos para se manter quente, ao mesmo tempo evitando a todo o custo que esta energia seja expulsa para o exterior. Agora imaginem no Verão a grandes temperaturas, em que o corpo necessita de se arrefecer e então começamos a ver este a libertar todo o seu calor para o exterior através do nosso suor. O corpo humano tem o seu próprio equilíbrio térmico, e para que nós possamos estar bem conforme o ambiente em que nos expomos, alguns dos nossos órgãos são obrigados a trabalhar de forma a garantirem a temperatura ideal para a nossa sobrevivência. Agora vamos pensar num Edifício… Quando estamos no Inverno, com temperaturas baixas e desagradáveis, o normal é procurarmos algum conforto térmico dentro da nossa casa ou local de trabalho, certo? Como fazemos isso? Vamos ligar os aquecedores para que estes aqueçam e tornem o ambiente agradável que nos permita estar confortáveis sem ter de estar carregados de roupa. Esta época é chamada de estação de aquecimento, pois nesta altura os edifícios têm a necessidade de se aquecer para conceberem o conforto térmico necessário para serem habitados. Agora vamos pensar no que acontece no Verão. Temperaturas altas e aquela sensação de bafo quente que nos põe a suar e a respirar com alguma dificuldade… O que é que nós fazemos se pudermos? Ar condicionado ligado, ventoinhas e janelas abertas! Tudo o que me dê aquela sensação de fresquinho seja para trabalhar, dormir ou até mesmo relaxar no sofá. A ideia crucial que é preciso entender aqui é que tal como o nosso corpo tem a necessidade de gastar energia para manter a temperatura ideal do nosso organismo e nos manter vivos, os edifícios atuais das sociedades desenvolvidas, também gastam imensa energia para manter a temperatura do seu ambiente em condições perfeitas para nós. Essa energia em grande parte elétrica, é responsável por cerca de 40% dos consumos totais de energia na Europa. Já imaginaram a quantidade de CO2 que é libertada para a atmosfera só para nos manter confortáveis? Pensavam que eram só o carro, o avião ou a chaminé lá da Fábrica os culpados disto? Temos aqui algum compromisso a assumir, pois somos nós os gestores energéticos da nossa própria casa e muitas vezes até do nosso local de trabalho e muitas vezes temos o poder de decidir em fase de projeto por soluções mais ou menos eficientes em termos energéticos que farão toda a diferença no futuro. Foi neste sentido que surgiu a necessidade de tornar os espaços, neste caso, os edifícios energeticamente mais eficientes. A ideia principal passa por evitar desperdícios tanto no Verão (Estação de arrefecimento) como no Inverno (Estação de aquecimento). A primeira grande preocupação para conseguir evitar os desperdícios em ambas as estações é isolar termicamente o nosso espaço de conforto. Ao isolarmos termicamente as paredes, tectos e janelas dos Edifícios, estamos a garantir que a temperatura que for gerada no seu interior não se vai alterar tão facilmente. No fundo estamos a combater o normal funcionamento da termodinâmica que está sempre à procura do equilíbrio térmico, isto é, se no Inverno está mais quente dentro de casa, o calor vai procurar sair para o exterior. Pelo contrário se no Verão o interior está mais fresco do que no exterior, o calor do exterior vai querer entrar e fazer aumentar a temperatura. O que a Engenharia tem procurado otimizar nos edifícios em termos de eficiência energética, é fazer, entre outras coisas, com que estas trocas entre o interior e o exterior sejam reduzidas ao máximo, mantendo a temperatura interior ideal para o nosso conforto. Esta otimização é conseguida através da adoção de sistemas construtivos mais eficientes e materiais com características isolantes em toda a envolvente da casa que separa o ambiente interior do exterior. Existem outros parâmetros a ser otimizados que irão fazer toda a diferença também no comportamento global do edifício, contudo será matéria para um próximo artigo. Neste artigo procurei explicar de forma sucinta e simples o que é isto do comportamento térmico do edifício, não abordando ainda a própria Certificação Energética. Esta Certificação que visa avaliar a eficiência energética do edifício envolve outros parâmetros como a qualidade do ar interior, o tipo de energia utilizada para aquecer e arrefecer o ambiente e as águas sanitárias, entre outras coisas. Tudo isto será também abordado em futuros artigos, contudo achei importante explicar em primeiro lugar o conceito base deste tema, pois desta forma torna mais claro o que se pretende atualmente dos edifícios em termos de comportamento térmico que por conseguinte o dará um bom desempenho e eficiência em termos energéticos. Bons Projetos a todos! #Miguel Ávila